Grandeza infinita
Ao adorar o Homem-Deus, Dr. Plinio buscava explicitar o cume de suas perfeições infinitas, cujos maravilhosos aspectos, aparentemente antagônicos — compaixão, cólera, serenidade, seriedade, perdão, gáudio, tristeza — deveriam enfeixar-se em um ponto supremo.
Durante toda a vida, na contemplação de Nosso Senhor Jesus Cristo, o ponto mais alto da minha admiração é considerar como Ele é perfeitíssimo debaixo de todos os pontos de vista. E procurar na personalidade d’Ele o ponto supremo, no qual todas as virtudes convergem para uma que é um sol de todas as outras.
Píncaro de toda a Criação
Como é esse ponto? Se pudéssemos ver isso n’Ele, como O consideraríamos?
Imaginem uma catedral composta de numerosas ogivas que se sucedem umas às outras, desde a porta principal até o presbitério, e — existe isso em certas catedrais — há uma ogiva mais alta que abarca todas as outras. Qual é, em Nosso Senhor, essa ogiva suprema?
Gosto de figurar que é uma grandeza a qual contém todos os abismos de perfeição d’Ele. Por exemplo, analisando toda a Criação, considerar aquilo que podemos chamar o ponto alfa de todo o criado, o ponto mais alto que, em última análise, é Ele mesmo, porque é o Homem-Deus. Enquanto Deus, Ele está infinitamente acima dos seres criados, mas enquanto Homem é o píncaro de toda a Criação.
Outro aspecto: uma seriedade infinita, olhando todas as coisas pelos seus mais altos e mais profundos aspectos, pela ordenação que as coisas têm entre si, e amando-as enquanto tais, porque são e devem ser assim.
Depois, uma serenidade insondável, que absolutamente não é indiferença para com os outros. Pelo contrário, um amor a cada ser, sobretudo às criaturas humanas, um amor transcendente do qual não podemos nem ter uma ideia!
Se o olhar d’Ele pousasse sobre uma multidão com dez milhões de pessoas, e nós pudéssemos acompanhar esse olhar enquanto incidindo sobre uma delas, ficaríamos conhecendo como ela é, como é o amor d’Ele para com ela, qual o gáudio que Ele tem se essa pessoa for fiel, e a tristeza se for infiel. Que amor, que alegria e que tristeza!
É um olhar cheio de serenidade e de seriedade, compreendendo o que vale cada criatura humana, disposto a fazer-lhe todo o bem possível, e amando-a totalmente. De maneira que essa pessoa, se salvando, é para Nosso Senhor um estremecimento de alegria.
Mas se ela se perde, é uma iracúndia sublime! As tempestades do mar mais terríveis não são senão brincadeira em comparação com isso. E quando Ele expulsa alguém para o Inferno, então ficamos pasmos do horror que Jesus tem àquela criatura que até o fim não quis atender o chamado d’Ele, e que por causa disso se precipita no Inferno. Não podemos ter ideia do que é a cólera se não pensamos na cólera divina de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Grandeza fulgurante de Nosso Senhor
Ao mesmo tempo em que n’Ele existe esse amor e essa cólera, há uma compaixão enorme, porque Nosso Senhor sabe perfeitamente que todos nós, homens, fomos postos nesta vida para sofrer, somos filhos de Adão e Eva e, portanto, herdamos o pecado original, temos defeitos e estamos na Terra para purgá-los e expiá-los, sermos fiéis e irmos para o Céu.
Jesus manda as provações, as dificuldades, as tormentas, e Ele mesmo prepara para nós a solução, arranja um jeito de, suportando-as e vencendo-as, acabarmos sendo fiéis.
Considerar que tudo isso em relação a todos os homens, desde o primeiro até ao último, cabe naquela mente e naquele Coração, nos dá uma ideia da grandeza d’Ele. Perto da qual, o que adianta dizer que fulano é um grande homem? Ninguém é grande, todo o mundo é pequeno, insignificante diante da grandeza fulgurante de Nosso Senhor.
A consolação d’Ele quando via — porque conhecia o futuro — os cruzados montarem a cavalo e irem até a Terra Santa para libertar Jerusalém! Que alegria! Ele via São Fernando tomar Sevilha, e pouco depois Isabel e Fernando conquistarem Granada, e o reino maometano acabar. Nosso Senhor exultou de alegria pensando no grande São Fernando, que vingaria a glória d’Ele. Tudo isso são grandezas fulgurantes.
Mas, ao mesmo tempo, lembrando o bom pastor que tem pena de sua ovelha, tira-a do carrascal, leva-a sobre os ombros e a cura. E o pai do filho pródigo que perdoa, etc. Há uma pluralidade tão grande de aspectos, que ficamos sem ter o que dizer.
Eis a grandeza, a majestade de Nosso Senhor, fazendo com que queiramos muito a invocação que está na Ladainha do Coração de Jesus: Coração de Jesus, de majestade infinita, tende compaixão de nós!
Majestade do abandono
Este é também o divino equilíbrio que há no Coação de Jesus. Por exemplo, a serenidade, a calma e a visão geral das coisas que Ele conservou durante sua Paixão.
A agonia no Horto é uma perfeição de equilíbrio e de majestade. Ali Nosso Senhor entra diretamente em colóquio com o Padre Eterno e tratando de todos os destinos do mundo, vertendo gotas de seu Sangue. E, depois, a majestade do abandono! Quer dizer, tão grande que nenhum homem conseguiu ficar junto d’Ele.
Portanto, a soledade, a tristeza, mas tudo tão equilibrado, tão extraordinário, que se a pessoa tomasse o trabalho de raciocinar um pouco sobre isso, sairia mais equilibrada e menos nervosa.
Uma pessoa que conhecesse o grande São Fernando — o qual conquistou terras sem conta aos mouros e que, de fato, foi quem os expulsou da Espanha — e tratasse com ele, seria impossível falar com o Santo sem ter diante dos olhos continuamente a ideia: esse expulsou os mouros. E na hora em que ele pedisse água para beber, talvez se pusesse de joelhos por causa dessa ideia, indissociável da noção da mouraria enxotada da Espanha, e da coragem do grande São Fernando.
Ao menos eu não saberia olhar para ele sem ter isso em mente.
Assim também, se eu conhecesse São Tomás de Aquino — o Doutor que é como um sol da Igreja Católica —, como me seria possível vê-lo passar por uma estrada, ainda que distante, montado a cavalo e meditando sobre um ponto de Filosofia, e não imaginar que dentro daquela cabeça estava nascendo um sol? Sol de inteligência, de sabedoria, de santidade. E o que vale mais do que tudo é a santidade, evidentemente.
Antegozo do Céu
Diante de Nossa Senhora também pensaríamos tudo isto, mas com uma particularidade.
Imaginar, por exemplo, Nossa Senhora, que foi virgem antes, durante e depois do parto. Durante o nascimento de Nosso Senhor Ela se conservou virgem; como esse mistério se deu?!
Outro episódio da vida de Maria Santíssima: quando Ela notou a perplexidade de São José, viu seu esposo passar por aquele sofrimento sem nome, e percebeu a santidade dele que não duvidou d’Ela em nenhum momento. O demônio com certeza queria que ele duvidasse de Nossa Senhora; São José não duvidou em nenhum instante, mas resolveu retirar-se. E a tristeza com que ele se acomodou sobre a cama para dormir, antes de partir pela estrada para o desconhecido, porque era o homem que estava colocado na maior perplexidade que houve na História.
Quem sabe se Ela o olhou dormindo em paz, mas afogado na dor? E se Ela de repente notou — quando já era quase madrugada, perto da hora de ele se levantar e partir, no último sonho noturno — a fisionomia de São José se iluminar como um sol, e percebeu que na última hora Deus teve pena dele e revelou-lhe o que havia?
Ele no sonho viu o Anjo, não acordou logo, mas pouco depois um vulcão de alegria estourou dentro dele. São José ficou junto à porta do quarto de Nossa Senhora prostrado, à espera do momento em que Ela saísse, osculou o chão e os pés d’Ela, e a Virgem Santíssima entendeu tudo e nunca falaram sobre nada. É uma coisa para lá de sublime!
Conversar sobre temas desses é antegozar o Céu. Imaginem a hora em que cheguemos ao Paraíso e vejamos, de repente, São José com aquele bastão e aqueles lírios, cercado de uma coorte intérmina de Anjos, mas com uma alegria enorme no olhar porque estava vendo Nossa Senhora a pouca distância dele. E um pouco mais adiante Nosso Senhor, que sem ser filho dele segundo a carne, mas sim segundo a lei, sorriu para ele e disse: “Meu pai!”
Só de vermos essa cena teríamos uma felicidade própria para encher a eternidade.
Tenho a impressão de que, diante de Nosso Senhor e de Nossa Senhora, o tema é tão grande que a graça penetraria em torrentes dentro de nós para, por assim dizer, pensar em nós e por nós a respeito desses temas, porque não somos dignos, nem estamos à altura de cogitar convenientemente sobre isso.
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 12/1/1992 e 31/1/1993)