A felicidade de fazer o bem
Cortesia, polidez, gentileza, amizade… são conceitos muito afins com Dr. Plinio.
Quando menino, eu possuía colegas com os quais, de vez em quando, estabelecia amizade. No primeiro período da amizade havia simpatia mútua, interesse, agrado. Mas, em determinado momento, parecia-me perceber o fundo da mentalidade de meu companheiro, e com isso sua companhia ficava sem graça, perdia a atração.
Vinha-me, então, uma sensação frustrante: “À distância, as pessoas dão-nos uma boa impressão, mas quando as conhecemos de perto, percebemos algo que repele”.
Isto, naturalmente, quando não dava em ruptura, gerava pelo menos um trato tenso.
Qual seria, entretanto, o fundo deste desapontamento? O que faltaria para a continuidade dessa amizade? O próprio Dr. Plinio responde:
Lendo fatos relativos ao “Ancien Régime” — onde a cortesia estava presente no trato, e correspondia a um hábito social —, eu percebia como as pessoas daqueles tempos viam-se numa perspectiva completamente diferente: elas possuíam alegria por causar alegria, satisfação por causar satisfação. O convívio era outro, a “douceur de vivre” estava implantada entre os homens…
Esta ideia levou‑me à seguinte pergunta: No tempo pagão, isto era assim?
A resposta era clara, bastava olhar para a História. Tomemos, por exemplo, um romano que manda chamar o escravo, e lhe diz: “Quero matar um inimigo, e para isso preciso testar este veneno. Você vai, então, tomá-lo para que eu possa ver se ele é forte o suficiente.” E o escravo morria em meio a contorções terríveis, diante de seu dono.
Quer dizer, os pagãos importavam-se apenas com suas vantagens próprias; a felicidade dos outros não lhes interessava.
Ora, em comparação com os antigos tempos, nas pessoas de minha geração, por mais que o trato não fosse igual ao dos romanos, a cortesia era meio cinematográfica. Pode‑se dizer que ela estava morrendo para dar lugar ao trato correto, mas que não possuía mais as doçuras de outrora.
Eu pensava: “Se eu conhecesse alguém capaz daquela dedicação, daquela solidariedade, eu começaria a achar sua companhia interessante e teria alegria em me dedicar também a ele”.
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Quatro palavras explicam a história da doçura entre os homens: Nosso Senhor Jesus Cristo!
Ele veio à Terra quando o mundo estava imerso na noite das mais densas trevas. Então a alegria de ser bom, de fazer o bem começou a fulgir entre os homens.
“Pertransivit benefaciendo” — passou pela vida fazendo o bem. O tempo inteiro, desde o começo até o fim, Nosso Senhor fez o bem. E com o transbordamento, com a abundância que conhecemos: por mais que os discípulos tivessem dormido no Horto das Oliveiras, quando Ele foi preso deu ordem aos carrascos: “A estes, deixai‑os ir em paz”.
Para termos a verdadeira alegria na alma, para termos a luz de Nosso Senhor Jesus Cristo diante dos olhos, saibamos nos sacrificar pelos outros sem esperar retribuição. Quando nos dermos conta, o aroma do convívio entre nós estará embalsamado, perfumado e agradável. É Cristo Nosso Senhor que estará presente.
Plinio Corrêa de Oliveira(Extraído de conferência de 1/6/1985)