Sainte Chapele – a capela da inocência.
Concebida por São Luís IX, a “Sainte Chapelle” (Capela Santa) foi edificada para servir de magnífico relicário a um dos espinhos da dolorosa coroa da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Já no seu exterior aparece sua pulcritude, deixando ver a leveza, o esguio, o elegante desse templo-escrínio e o sobrenatural que o impregna. Chama a atenção, de modo especial, o telhado com seus adornos e suas torres. Está construído em ângulo bem fechado, o que lhe confere maior graciosidade e ligeireza, dando a impressão de que está prestes a alçar voo. Pode-se imaginar que, soprando um vento forte, a “Sainte Chapelle” se lançaria em direção às imensidões do firmamento, e ali, em meio às nuvens e ao azul, tornar-se-ia ainda mais bela que na terra.
A torre central, antes um campanário, termina numa flecha que se atira para o alto, constituindo uma espécie de símbolo e de gráfico do desejo do homem de subir até Deus. Em uma das extremidades do telhado há um florão sobre o qual pousou um anjo. São tão bem-proporcionados um ao outro, o pedestal e seu anjo, que, dir-se-ia, se este último fizesse qualquer movimento, o florão vergaria. O anjo perderia o equilíbrio. É quase como se um pássaro estivesse pousado sobre uma delicada flor…
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Quem, pela primeira vez, visita o pavimento inferior da “Sainte Chapelle”, ignorando tratar-se apenas de uma antecâmara do andar de cima, dificilmente retém uma exclamação de encanto e deslumbramento, pensando ter encontrado a suprema beleza desse edifício. Depara-se com proporções inusitadas, que conseguem conciliar numa mesma perspectiva a elevação e a intimidade, e incutem no fiel que ali reza a impressão de estar sendo recebido carinhosa e afetuosamente por Deus, na sua sala mais interna.
Esse efeito extraordinário é obtido por meio das tênues e esguias colunas. Ora formam ogivas aderentes às paredes, ora se abrem de modo tão harmonioso, tão gradual e tão perfeito, que parecem palmeiras cujas folhas se tocam no teto.
É preciso dizer que as ogivas exercem um incomparável fascínio. Cada uma é linda, tomada isoladamente, mas o conjunto delas é ainda mais gracioso. As colunas, igualmente, são de uma particular formosura, acentuada pelas pinturas; juntas, porém, são de uma beleza indescritível. Narra a Sagrada Escritura que Deus, quando criou o universo, repousou no sétimo dia, contemplando a obra que havia realizado.
Então se Lhe tornou patente que, se as criaturas eram individualmente belas, a criação vista no seu todo as vencia em esplendor. É o que se dá com a “Sainte Chapelle”. Esse andar inferior, de tão arrebatadora beleza, era o local onde o povo e os servidores do palácio real assistiam à Missa, ao mesmo tempo em que na capela alta se celebrava outro Santo Sacrifício, para São Luís IX e os nobres da corte.
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Ao penetrar no pavimento superior, o visitante fica arrebatado de imediato, extasiando-se com a feeria do conjunto das colunas, ogivas e sobretudo vitrais! Tão predominante é o papel dos vitrais que a capela parece toda feita deles. De pedra há apenas o necessário para escorar o teto e suportar os caixilhos nos quais repousam cristais e vidros bem trabalhados em sua diversidade de cores, precisão dos desenhos e elegância das formas. Ao admirar o efeito produzido, vem-nos ao espírito esta ideia: “Não pensei que fosse possível, com os elementos desta terra, realizar algo assim tão parecido com o Céu!”
Pois bem, essa maravilhosa edificação só se tornou factível em virtude da fé católica. Quer dizer, não fosse o fato de ela ter sido construída em séculos de fé, por artistas de fé, e, antes de tudo, concebida por almas resgatadas pelo preciosíssimo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, que lhes abriu a porta do Céu e as elevou à vida sobrenatural por meio de uma abundante infusão da graça — o gênio humano não lograria idealizar semelhante prodígio de beleza.
Nascida da devoção de almas profundamente impregnadas de fé e pureza batismal, essa se poderia chamar a Capela da Inocência. Pela candura que se faz notar no esguio, no elevado de suas linhas tendentes ao mais alto, realizando um extraordinário equilíbrio de espírito, ela empolga, conduz ao auge do entusiasmo, porém um auge tão calmo, sereno e refletido, que não produz frenesi nem sensações por demais fortes ou intemperantes. Que obra prima da temperança! Tudo é lindo, magnífico, tudo arrebata. Mas tudo recolhe e tudo reza. É o ápice da candura, da contemplação e da meditação.
Cada peça de vitral, cada pedra e cada ogiva é como uma prece, em torno do centro da oração: o altar, onde se renova de modo incruento o Santo Sacrifício do Calvário. No seu alto é exposto um espinho da Coroa do Divino Salvador, trazido a pé e com indizível devoção, por São Luís IX, dos confins da França até Paris. É a pedra de ângulo de toda a extraordinária beleza dessa obra de arte.
Harmonia e variação, movimento e consonância, estabilidade e agilidade. É a “Sainte Chapelle”.
Plinio Corrêa de Oliveira