“Flashes”: momentos de Tabor

Os três Apóstolos que viram a Transfiguração de Nosso Senhor no Monte Tabor receberam uma extraordinária graça mística.

O que vem a ser “graça mística”?

Recebemos uma graça mística quando experimentamos “no fundo da alma quem é Deus, e a própria força d’Ele”. Por exemplo, entramos numa igreja gótica, ouvimos harmoniosos sons do órgão e ficamos maravilhados; isso induz nossa alma a adorar o Redentor, pois nos sentimos amados por Ele.

“Deus derrama graças místicas sobre todos os que trilham as vias da salvação, em intensidade maior ou menor, segundo o caso. Mas ninguém está excluído de recebê-las.” Essas graças “nos animam a enfrentar os sacrifícios desta vida. Trata-se de experiências místicas que nos tornam patente quanto Jesus nos ama e quer nossa eterna glória.

“Assim, ao longo de nossa existência terrena, já iremos experimentando um pouco das delícias eternas, e as tendas tão desejadas por São Pedro sobre o monte da Transfiguração, Jesus as irá levantando no “Tabor” de nossos corações. Para tal, Ele exige de nós apenas uma condição: que não Lhe coloquemos obstáculos.”

Como sucede com todos os dons divinos, para correspondermos às graças místicas é preciso fazer os esforços próprios à prática das virtudes. Afirma o famoso teólogo dominicano Garrigou-Lagrange: “A mística que não pressupõe uma ascese séria é uma falsa mística: foi a dos quietistas”.

Inteligência, vontade e sensibilidade

A determinadas graças místicas o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira chamava “flashes”. Explica Monsenhor João Clá:

“O ‘flash’ se assinala pela sua veemência, pois Deus entra em contato direto com a alma, pondo-a numa situação de arrebatamento. Ele favorece a inteligência através de um conhecimento sobrenatural muito superior ao que esta poderia receber pelos sentidos, dando-lhe certezas plenas e fazendo-a ver com rapidez e profundidade aquilo que jamais chegaria a captar com anos de estudo.

“Também convida a vontade a amar sem esforço as coisas que levam ao bem, incutindo-lhe forças e entusiasmo para praticar as virtudes, abandonar tudo o que afasta do caminho da santidade.

“Por fim, confere à sensibilidade tal ordenação que, no momento do ‘flash’, dir-se-ia que as misérias do pecado original foram apagadas: a inocência parece restaurada e a pessoa se sente angelizada. […]

Analogia com a visão beatífica

“Dr. Plinio mostrava o quanto considerava essa graça mística um dos maiores benefícios recebidos da Providência, e qualificava-a, inclusive, como um poderoso auxílio para a virtude da Fé: ‘Eu tenho a impressão – dizia ele – de que a Fé se torna quase uma evidência quando a pessoa está recebendo o ‘flash’. Ela se sente como que transposta para uma ordem de coisas meio paradisíaca e celeste. […] Tenho a tendência de achar que o ‘flash’ sobrenatural tem alguma analogia com a visão beatífica, na qual o homem vê a Deus intuitivamente, por cima dos sentidos.'”

A vida do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira foi, desde a mais tenra infância, repleta de “flashes”, aos quais sempre manteve total fidelidade. Disse ele: “Cada um, com a peculiaridade de seu espírito e a riqueza de sua personalidade, em relação aos ‘flashes’ deve ir apalpando e tateando suas impressões, a fim de procurar seguir um caminho análogo ao que trilhei. Esforçar-se em lembrar dessas graças recebidas, explicitar as sensações que causaram, de maneira a saber dizer qual foi sua substância e, posteriormente, estabelecer correlações e princípios.”

Rememorar os “flashes” recebidos

Devemos recordar com frequência os “flashes” que recebemos.

“Todo cristão, quando segue com fidelidade os passos de Jesus, tem em sua vida espiritual momentos de Tabor, nos quais vê com particular clareza o esplendor de Nosso Senhor Jesus Cristo. É a hora da Transfiguração. Poderá ser numa celebração litúrgica, ao receber a Eucaristia, durante uma Confissão, quando faz uma oração notadamente fervorosa ou, até mesmo, numa circunstância inesperada de seu dia a dia.

“Quem escolhe a ocasião para favorecer a alma com graças místicas é o Espírito Santo. A recordação dessas inefáveis consolações deve ser guardada na memória com cuidado, como quem cola num álbum as fotos dos melhores episódios da vida, para reviver, mais tarde, a felicidade daqueles instantes únicos.”

Fidelidade e perseverança na hora da provação

Entretanto não se trata apenas de uma simples recordação.

Afirma o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “Quando eu recordo o ‘flash’, ele está em mim como uma brasa sobre a qual alguém sopra: recebe oxigênio e toma força. Portanto, não se trata de mera lembrança, mas de uma revivescência, com muito alcance para a vida espiritual.

“Soprar as brasas dos nossos ‘flashes’ é unir-nos mais a Nossa Senhora, pois valoriza algo que Ela deixou no fundo das nossas almas. Então, como árvore que deitou fortes raízes e resiste à tempestade, os ‘flashes’ bem cultivados são garantia de fidelidade e perseverança, chegada a hora da provação.”

E a hora da provação chegou para os Apóstolos com a Paixão, mas depois tiveram as alegrias da Ressurreição. Também para nós virão grandes dores durante os acontecimentos previstos por Nossa Senhora em Fátima, após os quais teremos indizível júbilo, pois haverá o triunfo do Imaculado Coração da Santíssima Virgem, ou seja, será implantado em todo seu esplendor o Reino de Maria.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

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